A rivalidade no futebol entre o Brasil e a
Argentina é reconhecida por seus torcedores. Poucos sabem que há atletas dos
esportes da mente destes países que disputam títulos em jogos de tabuleiro.
Eles se enfrentaram no 4º Campeonato Pan-Americano de Othello, realizado em
Florianópolis, nos dias 20 e 21 de julho.
O evento realizado no Hotel Jurerê Beach Village contou com apoio das
federações e organização do Palácio da Memória.
Os três campeonatos anteriores foram
vencidos pelos argentinos Daniel Olivares (2010 e 2017) e Maximiliano Pellizari
(2018). “Pela primeira vez o campeão é brasileiro. Lucas Cherem foi o vencedor.
Apesar das dificuldades financeiras e da falta de apoio, nos esforçaremos para representarmos
nosso país no próximo campeonato mundial. Nosso desejo é indicar os cinco
jogadores que temos direito”, comentou Moisés Correia Junior, presidente da
Federação Brasileira de Othello, fundada em 2006.
Um minuto para aprender e a vida inteira
para dominar é o lema que define o jogo. Os olhares dos 26 competidores ficaram
focados no tabuleiro verde de oito linhas e oito colunas. Os brasileiros Lucas
Cherem e Moisés Correia Junior e os argentinos Daniel Olivares e Marcelo Lisnovsky
foram para a final após sete rodadas. Lucas Cherem, de São Paulo, foi quem mais
conquistou os 64 discos, pretos de um lado e brancos de outro.
Cherem começou a jogar em 2004 e já participou
de campeonatos mundiais na Islândia (2005), em Roma (2010) e Nova Iorque (2011).
E, neste ano representará o Brasil em Hong Kong. “Eu participei de um torneio
promovido pela empresa Grow quando ela o comercializa. Fiquei interessado por
ter regras simples, mas com estratégias muito complexas que aos poucos vamos
descobrindo e nunca acabam. Quando mais se descobre, mais se quer jogar”,
comentou o atleta.
Poliana Yossie Rodrigues, oito anos, é
filha do campeão. Segurando a boneca Laura no braço esquerdo, pensa nas
estratégias para vencer Helena Krambeck, de seis anos. Ela ganhou quatro das
sete partidas e ficou em 12º lugar no geral. “Eu jogo com meu pai. Ele tenta me
deixar ganhar, mas nem sempre consegue”, explicou a pequena competidora.
Desde 1977 existem campeonatos mundiais de
Othello que são disputados anualmente sem interrupção. Em 2010 foi organizado o
1º campeonato sul-americano, em Buenos Aires, na Argentina.
Daniel Olivares, 57 anos, é professor universitário
de matemática e física na capital argentina. Começou a jogar Othello aos quinze
anos. Desde criança exercitava sua mente em jogos de tabuleiro com os amigos. Um
deles comprou revistas nos Estados Unidos e descobriram o Othello. Há 36 anos participou
da organização do primeiro torneio realizado em seu país. Segundo ele, no Japão
há torneios toda semana com duzentos a trezentos competidores. Também lamentou
a ausência de bons jogadores brasileiros. “O Brasil é grande, entendo que é difícil por
causa da distância e da falta de patrocínio. Não há muitos jogadores desta modalidade. As crianças
de hoje aprendem na internet e os mais jovens gostam de jogar on line. Nós estudamos
regras e estratégias. Temos poucas oportunidades de ter momentos como este e
por isso viemos de tão longe”, explicou Olivares.
O torneio também contou com a presença de
Christian Avgoustopoulos na equipe de arbitragem. “Tenho certeza que esta
modalidade terá um crescimento gigantesco nos próximos anos, pelo alto teor
estratégico em jogo de regras tão simples”, comentou o árbitro.
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